terça-feira, 23 de dezembro de 2008

TEQUILA -- PT. 2

Carla está pendurada em um gancho no teto da sala, com um corte profundo na garganta e outro ainda maior na altura da cintura. De ambos foram arrancados órgãos internos, veias e ainda jorrava sangue, o qual se espalhava por todo o chão da sala, juntamente com tudo o que havia sido retirado. Os pés estavam descalços e com todos os dedos amputados e postos em cima de uma mesa próxima. Nela também havia uma luminária acesa, com sal ao redor e um recado grudado, escrito ‘Para Fabiana’ no lado de fora. Roberta mostrou-lhe o recado e abriram, com os devidos cuidados. Dentro havia um recado.

“Você pode ter se esquecido do seu passado, mas ele com certeza não se esqueceu de você.”

As duas ficaram num tal estado de choque, diante de tamanha aberração e de uma ameaça desconhecida, que tudo o que lhes restara era gritar desesperadamente. Desceram as escadas saltando os últimos degraus, Roberta inclusive tropeçou no último e caiu sobre o piso do corredor. Correram para fora, chamando a atenção de todos, que espantados, perguntavam o que houve. Luiz Guilherme foi o primeiro a tomar uma atitude, ao pegar Fabiana e Roberta pelos braços e levar até o banco mais próximo, oferecendo uma água a cada uma, e perguntando o que houve, e se havia alguém as perseguido.

Era muito difícil, quase impossível de elas responderem, visto que o choque lhes tirou qualquer senso de conduta que havia se estabelecido ao longo dos anos. Tudo o que Roberta pôde dizer era: "Olhem na sala dos professores..."

Foi o próprio Luiz Guilherme quem subiu para verificar. Naquela altura, todos que passavam perto da faculdade naquele momento, pararam em frente ao prédio, para ver o que se passava. Depois de um minuto, Luiz voltara com a mesma expressão de suas amigas, e subitamente pegou seu celular e chamou a polícia.

As viaturas chegaram ao mesmo tempo e cercaram o local. Por falta de provas, não poderiam prender ninguém, mas iniciaram as investigações, e levaram todos os alunos que conheciam Carla para a delegacia, para prestar depoimento.

O delegado João Antônio, do 16º DP foi o encarregado de coletar as informações dos alunos. Roberta foi a primeira a depor, afinal era a melhor amiga de Carla, ainda abatida pelo que viu, mas sentia que deveria ajudar a polícia a encontrar o responsável. Chegou também a entregar o recado aos policiais para checagem de provas, mas o recado havia sido digitado, e apenas continha as digitais de Roberta e Fabiana.

A polícia procurou ao máximo evitar que o assunto chegasse á imprensa. Sabiam, por experiência, que geraria uma série de discussões que renderiam pauta até o próximo ano, pelo menos. O que eles mais temiam era a interferência negativa da mídia no caso, o que certamente atrapalharia as investigações. O delegado João tinha 13 anos de casa no 16ºDP, se encarregando de casos de assassinato, estupro, seqüestro e pedofilia.

A direção da faculdade, ao saber do ocorrido, paralisou as atividades por 1 semana. Tempo para que a perícia pudesse examinar o local, mas também para lacrar por outro motivo, menos arrebatador. O comunicado foi passado aos alunos por e-mail, no meio-dia do domingo. Poucos estariam acessando a internet naquela hora, mas o aviso estaria lá quando eles voltassem ao acesso.

“Por motivos de força maior, a FSP irá paralisar as suas atividades na próxima semana. Apenas o atendimento ao aluno e o atendimento financeiro estarão funcionando, em período reduzido. Contamos com a compreensão e colaboração de todos.

A diretoria.”

Quinta-feira, 20 de junho. 4:15PM

(Continua...)

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