domingo, 25 de janeiro de 2009

ENVIE -- CRÉDITOS

Autor:
Rodrigo Figliolini

Agradecimentos:
Johnny Will
Bel Elias
Candé Brandão
Rodrigo Nahas
Ian Felipe
Thamiris Dionízio
Dênis Dionízio
Bruno Cassab
André Xavier

ENVIE -- PT. 9

Philip não foi à escola no dia seguinte. Ele saiu de casa em seu horário normal de saída e foi ao shopping. Ele procurou se distanciar de tudo que pudésse lembrar o dia anterior, de todas as lembranças que guardaria consigo pelo resto de seus dias, de qualquer pingo de arrependimento que ele pudésse ter, mesmo achando impossível, e de qualquer coisa relacionada á sua escola. Ele fitava as vitrines das lojas, os cartazes de promoção, os vendedores bem e mal humorados, as famílias unidas para compras e as turmas indo ao cinema. Ele se sentia isolado daquilo tudo. Para ele, ele era apenas uma câmera observando o movimento dos transeuntes e reportar as anormalidades para o pessoal encarregado da segurança. Toda a sua tentativa foi em vão ao notar uma menina de visual semelhante ao de Mariana entrando numa loja de sapatos e, numa loja de eletrônicos próxima, um rapaz semelhante a Joseph saindo, com uma sacola na mão direita e acompanhando duas meninas. Ele andou depressa à escada mais próxima e ao subir, esfregou os olhos. Ele não chorava, mas tentava se desfazer da imagem.

Passou no McDonald's, comeu dois Big Macs e foi pra casa. Chegando, pegou um balde, depositou as roupas que estavam sob a cama, foi aos fundos da casa e ateou fogo nas roupas. Ali, era o momento de queimar as lembranças e sair de lá renovado. Ele se concentrou no carro de seu pai e, na esperança dele ser seu quando o pai comprar outro, algumas lembranças foram diminuídas. Quando viu que material suficiente fora carbonizado, ele usou a mangueira de regar para apagar o fogo e sacos de lixo para recolher o que sobrara e jogar fora. Como precaução, lavou o balde três vezes. As facas foram junto, enroladas em papel alumínio, o facão foi depositado num bueiro de rua horas depois.

Na manhã seguinte, ele foi à escola no horário, chegando, limitou-se a não se expressar muito, até que um momento lhe surpreendeu. Ele notou quatro cartazes com as fotos de Mariana e Joseph no corredor das salas, e dez cartolinas com assinaturas de alunos, professores e funcionários da escola pedindo a localização do assassino. Um colega de sala abordou Philip, e após perguntar por que faltara no dia anterior, comentou que a polícia esteve lá, para pegar depoimentos do corpo docente e discente da escola, para verificar se alguém era suspeito. Ao lado da porta da sala da Joseph, uma folha A3 contendo uma oração feita pelos alunos homenageando Joseph com uma foto dele em cima. Philip chorou naquele momento. Pôs a mão sobre a folha, e foi amparado por um professor de física que entrava para lecionar. O professor disse algumas palavras de consolo e demonstrou seus sentimentos pois sabia que ambos eram amigos, depois disse que a escola faria uma palestra para homenagear Joseph e Mariana no auditório após a aula, e que a escola não iria abrir nos próximos três dias de aula.

Philip enxugou as lágrimas e entrou em sua sala.

Após a aula, todos os alunos se dirigiam ao auditório para a palestra, e Philip foi ao banheiro. Ao entrar, viu o armário de utensílios de limpeza semi-aberto. Dentro, havia vários produtos de limpeza. Ele pegou um frasco e pôs na mochila.

No auditório, fotos de Joseph e Mariana num mural posto no palco, um palanque com microfone, duas cadeiras e uma caixa de som com duas velas e um castiçal em cima. Na primeira fila, os amigos mais próximos de Mariana e Joseph, na segunda, os membros da diretoria. O restante da escola ocupou as demais fileiras. O diretor entrou pela portão, subiu ao palco e se postou no palanque. Com umas folhas de papel, ele fez um discurso para homenagear os alunos, citou a feira, na qual Joseph fora campeão, e a matéria de História, na qual Mariana apresentou um trabalho que tirou a maior nota. Ele demonstrou as expectativas que tinha nos dois alunos e expressou seus sentimentos aos pais de Mariana e Joseph, os quais foram os próximos a falar no palco. A mão de Mariana, muito semelhante á filha, levou uma foto das duas juntas numa viagem e, tentando conter o choro para falar, agradeceu o apoio da escola no momento. Philip assistia a tudo da terceira fila. Ele se sentia num julgamento. E foi convidado a falar.

Ele andou devagar ao palanque, vendo as fotos, os olhares na platéia, e foi cumprimentar os pais de Mariana e Joseph. Ele conseguia sentir o sangue de suas vítimas e todas as lembranças voltaram como uma bomba ao olhar nos olhos dos pais, tornando a tentativa do balde impossível e fracassada. O pai de Joseph abraçou Philip e lembrou de uma noite em que Philip jantou em sua casa, após a execução de um trabalho de Português.

Philip subiu ao palanque e ajustou o microfone á sua altura.

- Boa Tarde a todos. - Uma pequena pausa - Joseph era um amigo muito próximo de mim. Sempre nos reuníamos quando possível para falar da vida, de trabalhos, tudo para preservar e fortalecer a amizade que tínhamos. Foi uma pessoa que me ajudou muito. Ajudou a me conhecer e a melhorar em alguns pontos. Com a Mariana eu tive menos contato, mas ainda assim, eu conhecia um pouco dela. Tivemos uma boa renuião juntos e uma vez fomos ao cinema com outros amigos. Era um bom tempo. Uma pena que ele se foi, mas assim é a vida. E temos que aceitar algumas coisas que infelizmente acontecem com a gente, e espero que aceitemos essa.

Ele tirou o frasco da mochila e leu 'Cuidado, leia com atenção as instruções de uso' e 'Mortal se ingerido'.

- Espero que aceitem isso. Eu vi Mariana e Joseph pouco depois que morreram. Na verdade, eu fui o último que os vi com vida, porque fui eu que matei eles!! E, se quiserem, eu dou todos os detalhes a vocês e à polícia. Ainda não sei se estou arrependido do que eu fiz, mas eu quis pegar de volta o que tiraram de mim. Agora vou me explicar. Adeus!

Abriu o frasco e bebeu tudo o que havia dentro. Era um desentupidor de canos, altamente tóxico. Em 30 segundos, Philip caiu no palco, teve um sufocamento causado pelo líquido tóxico, seguido de tremores. Ele parou de tremer e seu corpo parou de se contrair, relaxando totalmente e Philip fazendo uma expressão neutra. Estava morto.

Todos os presentes mal puderam expressar-se diante de tal cena, apenas a mãe de Mariana, que entrou em choque e desmaiou após a declaração. Um segurança pediu uma ambulância e chamou a polícia, para reportar o que Philip dissera. Outro segurança impediu que qualquer pessoa se aproximásse do corpo de Philip. O pai de Joseph se aproximou até onde podia e olhou os olhos de Philip. Segurando uma maleta e um lenço, ele os apertou tão forte ao ponto de quebrar a alça e rasgar o lenço. O pai de Mariana foi ao lado dele, estava no mesmo estado, ambos olhavam para Philip, a última pessoa que imaginavam ter matado seu filho.

FIM

ENVIE -- PT. 8

Philip estava prestes a engatar a marcha-a-ré para atropelar novamente, mas seu instinto o ordenou fazer outra coisa. Ele tirou um boné do banco de trás e o pôs na cabeça. Seguidamente pegou a mochila e saiu do carro. Joseph pouco se movia, já sangrava muito. A trilha de sangue, principalmente saída de seu quadril, já chegava ao bueiro. A porta do carro se abriu vagarosamente, enquanto Philip colocava as pernas para fora. Mariana chorava desesperadamente, e á medida que Philip se aproximava dela, o desespero crescia. Ela não se pôs a correr, pois observava o estado de Joseph e se agachou para tentar ajudá-lo, mas ele já se encontrava inconsciente e quase morto.

Philip tirou o facão da mochila e a pôs nas costas. Quando Mariana ameaçou correr, ele a segurou pelo ombro direito.

- Por favor, não me mate!! Por favor!!!!! - Ela implorava.

- Fica quietinha aí!

- Phi-Philip?!!! - Ela mal acreditava que era ele o autor. O boné cobria seu rosto.

Mariana entrou em choque quando Philip tirou o boné e se revelou. Ela levou as mãos ao rosto e, chorando ainda mais, perguntou por quê ele atropelou Joseph.

- Foi por sua causa. E não ouse me dizer o contrário!

- Mas...

- Cala essa boca - Philip ameaçou, colocando o facão contra o pescoço de Mariana.

Paulatinamente, Philip fez Mariana ajoelhar-se no chão, próxima ao corpo de Joseph, já morto. Ele se agachou e aproximou seu rosto do ouvido de Mariana, segurando-a pelo braço enquanto ela tentava resistir.

- Eu sempre te amei. Leve essa marca com você.

Philip fez um corte longo e profundo no pescoço de Mariana. Assim que viu o sangue escorrendo pela blusa, ele a golpeou novamente, na barriga, com força suficiente para o facão atravessar o corpo. Ele quase chorava ao golpeá-la, ao pensar que tudo poderia ter ocorrido de outra forma, mas se conteu.

Ao tirar o facão de Mariana, ele se levantou e observou Mariana dar os seus últimos suspiros. Por alguns segundos ele se virou para pôr o facão de volta na mochila e ver se havia outras pessoas por perto. Naquele momento cada lembrança que Philip tinha de Mariana veio á tona. Ele conseguiu sair com ela quatro vezes. Uma para ir ao cinema, duas após festas do colegial, quando foram tomar sorvete e uma no restaurante japonês perto da escola. Lá, ele tentou se expressar para Mariana, ele acreditava que era a oportunidade perfeita. Adorava apreciar o cabelo ruivo de Mariana e as sardas que ela tinha abaixo dos olhos. Philip enxugou uma única lágrima que lhe escorreu enquanto olhava para os corpos de Mariana e Joseph, ambos sem vida, e a trilha formada pelo misturado deles desenbocando no bueiro. Ali, muitas coisas entravam junto com o sangue, de acordo com Philip.

Ele correu para o carro e saiu de lá fritando os pneus. Parou num beco a dez quadras de sua casa, pôs o boné de volta na cabeça, a mochila nas costas e foi correndo para a garagem de sua casa, aonde esvaziou a garrafa de Whisky que abrira e subiu para o quarto, desta vez, com a maior lentidão que jamais teve. Ao subir as escadas, tirou o boné e a camiseta. Assim que sentou-se na ponta da cama, tirou o restante das roupas e as colocou sob a cama. Ainda não sabia o que fazer com elas. Ele não parava de olhar para o chão e pensar em tudo o que fez. Ele não se sentia arrependido, mas amargurado. Aquilo aconteceu com a garota na qual ele investiu tempo, esforços e dinheiro, mas obtivera muito pouco retorno. Seguiu para o banheiro aonde tomou uma ducha longa e, em parte, gelada.

(Continua...)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ENVIE -- PT. 7

Mariana se despediu e saiu sem falar muito. A presença de Philip não lhe agradava muito. Ele limitou-se a observar a saída de Mariana e voltar seus olhares para a sala. Tirou a mochila das costas e se preparava para entrar. Deu apenas 2 passos em direção á porta, mas parou subitamente. Ele sabia que estava prestes a cometer algo impensável, mas pensou nas sirenes da polícia, em algemas em seus pulsos, péssimos companheiros de cela, dentre outras coisas. Após ouvir da diretoria que as chances da bolsa ir parar nas mãos de Joseph eram grandes, ele quase entrou na sala de solavanco. Ele estava ainda mais irritado, mas fechou a porta e saiu. A sala da diretoria não era maior do que o banheiro, era possível ouvir o que se falava. A secretária apenas reparou a presença de Philip, mas não lhe indagou nada.

Assim que o sinal tocou a saída, Philip foi à sala de Joseph perguntar como foi na reunião. Joseph contou a notícia da bolsa, e confirmou a participação na feira estadual.

- Aonde vai ser?

- Em Santo André - Aquilo, para Philip, foi a gota - Tenho 1 mês para me preparar, os diretores vão me mandar todas as instruções por e-mail amanhã.

E Philip ainda teria outra bomba em sua consciência. Ao informar que Mariana passou para vê-lo, Joseph disse que ela o convidou para jantar em sua casa, para, segundo ela, discutir o projeto.

Enquanto andavam pelo corredor, Mariana se aproximava. Philip se sentia 'sobrando' na área. Mariana cumprimentou ambos, e foi tudo o que ela disse à Philip. Ele só ficou ouvindo o combinado entre Joseph e Mariana. Eles iriam almoçar juntos, depois iriam para a casa de Mariana. Aparentemente, o jantar foi puxado para a tarde toda.

Philip saiu á francesa, andando até o fim do corredor, seguidamente correu para a saída, voltando a andar no portão, para não chamar a atenção dos seguranças.

Havia três restaurantes próximos á escola. Dois deles serviam almoço, o outro era de cozinha japonesa. Philip sabia da preferência dos colegas á gastronomia oriental. Ele se sentou num dos bares perto da escola, de onde observou a saída de Mariana e Joseph. Ele sabia aonde ambos moravam. Como Philip imaginava, eles foram ao restaurante japonês.

Não demorou para o almoço se tornar mais do que casual, e Joseph fazia carícias em Mariana, chegando ao ponto de se beijarem, e darem risadas. Philip se sentia abandonado. Depois de ver a cena, ele só rezava para não estarem falando mal dele, depois, não se importou.

Ele saiu correndo para sua casa como se fugisse de alguma coisa. Apenas parava nos cruzamentos. Assim que chegou em casa se pôs embaixo do chuveiro e, mesmo de roupa, o abriu, na posição 'desligado'. Suas lágrimas enraivecidas se misturavam com a água fria que sobre ele caía. Não havia mais ninguém em casa.

Saiu, ligou o som no último volume e deitou-se na cama.

Quando desceu, de roupa trocada, pegou sua mochila e voltou á rua. Descendo a avenida, chegou ao término, aonde havia três carros estacionados, um terreno vazio e um prédio de quatro andares. Utilizando duas pedras encontradas no chão, quebrou uma das janelas do último carro, tirou os cacos com o casaco para não deixar á mostra, deu a partida e seguiu. Ao se aproximar do restaurante, Joseph e Mariana não estavam lá. Ele seguiu pelo caminho que fazia para a casa de Mariana.

Viu os dois andando numa rua pouco movimentada, a cinco quadras da casa dela. Estavam de mãos dadas, vez por outra um beijo acontecia. Philip seguiu de perto. Quando Joseph atravessava a rua, seguido por Mariana, Philip pisou no acelerador como se seu pé pesásse 1 tonelada. Joseph subiu 2 metros, antes de chocar-se contra o chão. Sua perna direita se desmembrou de seu corpo.

(Continua...)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ENVIE -- PT. 6

Joseph abordou Philip ao lado da porta.

- Só queria falar 'boa sorte'.

- Valeu, cara!!

Philip esperou Joseph entrar na sala. Quando deu uma leve olhada ao corredor, viu Mariana olhando para a diretoria. Chamou-a num grito breve.

- Fala! - Ela respondeu inocentemente.

- Vc tava falando com o Joseph?!

- É! Sobre o projeto dele! - Mariana entendeu a pergunta. Ela captava as investidas de Philip, mas negava todas.

- Vocês estão combinando alguma coisa?! - Philip foi direto ao ponto.

- A gente vai se ver nesse fim-de-semana pra falar dele.

(Continua...)

ENVIE -- PT. 5

Na hora do intervalo, Philip saiu da sala, apenas com o dinheiro do rango, mas desistiu ao ver o tamanho da fila. Ele optou por voltar à sala e rever o material da aula de História. Haveria uma prova naquela semana, envolvendo a história do Brasil durante a ditadura e o período de abertura do governo. Ele preferiu se concentrar no estudo. O alto nervosismo causado pela feira haveria de passar na cabeça dele. Enquanto arrumava seus materiais, Joseph entrou na sala. Philip pensou que nada do que ocorrera era culpa do amigo, não haveria por que tratá-lo mal. Conversaram numa boa, até o momento em que Joseph citou a reunião com a diretoria, e apresentou um certificado emitido por ela ao 'campeão' da feira. Aquilo reativou o rancor em Philip, que lutou bravamente para não demonstrar aquilo, o que ficou ainda mais tenso quando Joseph disse que uma colega dele o havia procurado sobre a feira. Porém, o assunto da feira era apenas um pretexto. Philip perguntou o nome dela.

- Mariana Guilhermo, a ruiva da minha sala, sabe quem é?!

Philip quase enfiou uma porrada nos dentes do colega. Ele era um pretendente de tempos de Mariana, nos meses anteriores, uma sucessão de investidas á moça. Philip imaginava que recebia um 'feedback' de Mariana. Naquele momento, ele se sentia menor do que a própria mesa.

Philip desconversou e saiu andando, decidiu matar a próxima aula e foi até a cantina, de onde furtou três facas e um facão de cortar carne. Escondeu tudo na mochila. De lá também furtou um suco de maçã, dois de melão e dois copos descartáveis. Correu ao banheiro para evitar os serventes da escola e misturou os sucos dentro de um dos copos, dentro do box.

O sinal tocava a última aula. Philip ainda estava no banheiro, do que sobrou dos dois sucos, ele bebeu tudo. Dixou tudo num box e foi lavar o rosto. A vontade dele era de arrancar uma das privadas e jogar contra o espelho. Ele queria ver qualquer coisa, menos o seu rosto, e sua expressão de derrota.

Quando o sinal tocou o fim da última aula, Philip bebeu boa parte da mistura e jogou um parcela em sua camiseta. Lavou os copos e escondeu na mochila.

Assim que saiu, um servente o abordou, perguntando por que não foi a aula. Philip disse que não passava bem, e que precisava ir ao banheiro. Acabou por vomitar o que havia comido antes.

- É melhor você ir pra enfermaria! Eu te acompanho!

- Não precisa, obrigado! Já estou melhor!

Philip já queria fugir do servente, mas este o pegou pelo braço.

- Tem certeza?!

- Tenho, sim!

Philip esperou por cerca de 15 minutos, próximo á diretoria.

(Continua...)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ENVIE -- PT. 4

Philip quase bateu o telefone na cara de Joseph. Ele mal acreditava no desabamento que lhe ocorrera, e como se não bastásse, ainda caem cacos de vidro nos seus olhos. Ele desceu à garagem, pegou uma garrafa de Whisky do seu pai, abriu e começou a beber. Ele fitou a pequena janela por quase uma hora. Nesse tempo, as palavras de Joseph repetiam na sua cabeça, de novo e de novo.

- Tá na mesa, Philip! - Sua mãe chama

- Já vou!

Philip fechou a garrafa e a colocou atrás do carro. Foi nessa hora que ele percebeu que havia bebido quase a metade da garrafa, o que o deixou levemente desorientado. Passou no banheiro para se recompôr, antes de sentar-se á mesa.

Ele mal trocou palavras com seus pais durante o jantar, tentou disfarçar ao máximo a sua decepção. Esta, aos poucos, se transformava numa inveja crescente de Joseph, cada vez que as palavras dele se repetiam. Philip se imaginava na feira estadual, em São Bernardo ou Santo André, e celebrando com mestres de faculdade. Ao perceber que tudo aquilo não iria lhe ocorrer, a não ser que houvésse uma súbita mudança nos fatos, ele sentia-se cada vez mais desconfortável sob sua pele.

No dia seguinte, Philip não conversou ninguém até chegar à sua sala. Apenas respondia a quem lhe cumprimentava, para não aparentar problemas.

(Continua...)

ENVIE -- PT. 3

A banca limitou-se a dizer que o projeto de Philip custaria muito ao governo para implantá-lo, o que o tornaria inviável para campanhas a curto prazo. Era ano de eleição para prefeito e vereador.

Philip evitou conversa com quaisquer pessoas mais que lhe aparecessem no caminho. Ele apenas juntou seu trabalho, pos numa caixa e saiu pela porta. Tudo o que deu tempo de ver foi os professores conversando com Joseph, elogiando-o por seu trabalho. Aquilo fez Philip parar por um minuto, antes de sair pela porta. Ele não quis jogar seu trabalho fora, apenas guardou-o na garagem, antes de subir ao quarto e lamentar-se como criança.

Na terça-feira, Philip não foi à escola. Ele não queria ver olhares de reprovação caindo sobre ele. Ele foi ao parque e decidiu pensar no que aconteceu. Lhe ocorreu por duas vezes conversar novamente com a banca, mas ele desistiu em ambas. Voltou para casa na hora do almoço, sua empregada terminava de fazer panquecas.

- Quero duas, por favor.

- O que vai beber?!

- Coca.

Foi tudo o que saiu da boca de Philip durante todo o dia. Até ás 8 da noite, quando seu celular tocou. Era Joseph.

- O que aconteceu? Você faltou hoje!

- É! Tive um problema em casa... - Philip se limitou a falar disso.

- Ontem, depois da feira, o Jean, da coordenação veio falar comigo! Ele me disse que a diretoria planeja indicar alguém da escola para a feira estadual, e uma bolsa de estudos! Eles querem me ver amanhã, na diretoria, depois da aula! Não é irado?!!! - Joseph não continha sua empolgação, Philip continha tudo o que lhe vinha á cabeça.

(Continua...)