segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

INTITULADO -- PT. 2

Entre bolas, cones e colchonetes, um amontoado de sacos de lixo amarrados por um cinto de couro preto em forma de um corpo humano, com vários insetos, vermes e baratas rodeando-o, além de neutralizarem o poder de fala dos que lá estavam, cobriu o vestiário com um odor insuportável. Os cães não conseguíam se aproximar do armário, enquanto os policiais cobriam o nariz com toalhas de papel. Fazendo o mesmo, o pai e a irmã de Jorge. A mãe se retirou e foi ao campo, se pondo a rezar para que, por debaixo dos sacos, não estivésse o corpo de seu filho. A perícia foi chamada, o local foi reforçado pela segurança enviada pelos pais de Jorge e qualquer membro da imprensa seria proibido de se aproximar do local.

A família de Jorge não quis ver o que quer que os sacos cobríam, mas recebeu uma chamada da perícia quatro dias depois. De acordo com o laudo, era o corpo de um garoto, cuja idade, altura e peso eram compatíveis com o de Jorge. Eles foram chamados para fazer o reconhecimento. Todos foram.

Chegaram ao necrotério ás 10:00Am, conforme solicitado pela perícia.

- Por favor, sigam-me - Disse o cientista forense local, em tom neutro.

Os pais de Jorge foram dirigidos á sala 2046, na qual apenas uma maca fora montada, e um corpo coberto lá estava. O médico descobriu o rosto, pescoço e parte do tórax. A identificação foi positiva. Era Jorge. Estava com um corte profundo na testa, já putrefato, pele pálida, lábios azuis e secos, pescoço quebrado. Nada poderia tê-los preparado para tal brutalidade. A mãe de Jorge perdeu a força nas pernas, de tanto trêmulas que ficaram, caiu no chão e entrou num choro desesperador e angustiante. O pai tentou abraçá-la e contê-la, para que não saísse correndo.

O médico os olhou, pôs a mão no ombro do pai de Jorge.

- Eu sinto muito. - O tom era mais melancólico. Ele fora emocional e fortemente atingido pela imagem - Muito mesmo.

O pai de Jorge lhe agradeceu e se levantou, erguendo sua mulher. Izabella recebeu a notícia dos pais e entrou no mesmo estado de sua mãe. Os três foram levados a uma sala vaga, aonde os médicos lhes ofereceram café, água e rosas. A comissão do necrotério era reconhecida por dar grande valor e apoio às famílias dos falecidos.

Uma psicóloga designada pela comissão foi até a sala e conversou com a mãe de Jorge. Acompanhada pelo médico, seu assistente e um psiquiatra, eles passaram uma hora e meia conversando com Izabella e seus pais. O médico perguntou á família sobre o que desejariam para o corpo de Jorge. A decisão foi cremar o corpo, e construir um monumento no cemitério da Consolação, aonde ficarão as cinzas de Jorge. A polícia iniciou um inqueríto no dia seguinte, na escola de Jorge. Um telefonema para o diretor da escola e o consentimento dos pais. A casa de Jorge recebeu inúmeras visitas, cartas e telegramas de membros da escola, solidarizados com o fato.

(Continua...)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

FRIDAY THE 13TH

A CASA 66

Nem mesmo o carteiro, aquele bom moço que costumava passar em todas as casas da rua Balthazar, era conhecido por todos os moradores da rua, sempre trazendo as correspondências esperadas e com suas boas dicas sobre como reduzir suas contas, minimizando aquela tradicional correria no início de cada mês, chegou a ter a ousadia de tocar a campainha da casa nº66, a última da rua. Ninguém sabia ao certo por quê, mas havia uma grande desconfiança sobre a casa. De todas as casas da rua, era a única cujo quintal não era lá dos mais bem cuidados, tão pouco a cerca da casa, e a própria. Exceto pelo telhado, que era constantemente reparado. Seus vizinhos mais próximos, a casa nº64, dos Alvez Diaz, alegam ter visto alguns casais adentrando na casa e saindo sem falar uma palavra.

Acima da porta da frente havia uma estaca, algo como uma mastro de uma bandeira, porém sem a própria. Na manhã de uma fria sexta-feira de julho, dia 13, a estaca amanheceu sendo sobreposta a uma bandeira negra, e um tapete vermelho ligava a caixa de correspondência á porta da frente. Ao meio-dia, a casa dos Alvez Diaz recebia a visita de amigos. Era o aniversário de um ano da casa. Eles não possuíam filhos, mas eram casados há 1 ano e meio, e há 1 ano exato, efetuaram a compra da casa. Todos arrumavam a casa para a festa que iria ocorrer naquela noite. Cada um deveria trazer alguma coisa.

20:13hs. A casa nº66 dava sinais de movimento. Havia várias luzes acesas, e uma movimentação nos fundos da casa. Três cães eram alimentados. A casa nº64, estava pronta para o início das festividades. Ás 21:13hs, os convidados chegaram.

22:00hs. Enquanto rolava a festa na 64, um casal amigo dos donos, Francisco e Mariana, fitava a casa 66 por uma das janelas, próxima á porta da frente.

- Você conhece seus vizinhos?!

- Já jantamos umas 3 vezes na casa 62, eles eram foram muito gentis. Na 65 já fui jogar pôquer, a última vez foi na semana passada.

- E na 66?

- Nunca falei com eles. O cara da 65 me disse que eles são sequestradores. Achei que fosse piada...

Francisco fechou levemente a porta da frente, e caminhou até a fachada da frente da casa 66. A luz do porão estava acesa. Ele toca a campainha.

Um velho senhor abre a porta.

- Quem é?!

- Oi... - Francisco não sabia bem o que falar - Ahm..., meu nome é Francisco Salto, eu sou amigo dos donos dessa casa...

Antes que terminásse, o senhor fechou a porta. A luz do porão continuava acesa.

- Que você tá fazendo aqui?! Marian o tomou de susto

- Ah, só queria ver se eles querem vir pra festa!

- Eu não gostei daqui, vamos embora, vem!

- Tá legal!

Enquanto caminhavam á porta, Francisco acendeu um cigarro. Mariana pegou outro do mesmo maço e acendeu-o. Após alguma tragadas e uma breve conversa jogada fora, ouvem passos rápidos. Um dos cães, um rottweiler aduto, surge do quintal da casa 66, pula a cerca e abocanha Mariana no pescoço. Ambos caem contra a porta. O casal tenta afastar o cão, quando este ataca Francisco. Mariana abre a porta procurando ajuda, ela já esta cambaleando, o Rottweiler abriu uma grande ferida em seu pescoço e sangue arterial saía esguichado, 'pintando' a parede. Todos na festa se dão conta da situação. Dois rapazes pegam uma cadeira cada e tentam atingir o Rottweiler. Quando um deles põe-se para o lado de fora, outro Rottweiler, ainda maior do que o primeiro, se juntou a este, e ambos estão devorando as tripas do jovem. Mariana cai no chão, sem vida, e sua trilha de sangue ocupa toda a entrada.

O segundo Rottweiler salta contra o rapaz, e ambos caem contra a porta, quebrando-a. Ao caírem no chão, um Pitbull se coloca ao seu lado e os dois páram por 10 segundos. Eles encaram as pessoas nos olhos, farejam seu medo e desespero, e atacam a garganta do rapaz caído sob o Rottweiler. O outro rapaz que pegou uma cadeira atirou-a contra uma das janelas, numa desesperada tentativa de fuga. O Pitbull corre e o derruba, repetindo o modus operandi de seu 'aliado', atacando a jugular do rapaz, depois desmembrou a perna direita do rapaz. O restante dos convidados subiu para o andar superior, entraram no quarto do casal e trancaram a porta. Os cães terminavam de devorar, um dos Rottweiler foi até a cozinha, o outro subiu na mesa de jantar e devorou tudo o que lá havia. O Pitbull foi até a porta da frente, e mandou uma seqüência de latidas que ecoou por toda a rua. A casa 62 acordou pelas latidas, e um jovem olhou pela janela.

O velho senhor saiu da casa 66 e foi ao encontro do Pitbull. Ele trajava um longo sobretudo preto. O cão farejou na escada e apontou com o focinho para o andar superior. O velho olhava a sala, os móveis desordenados, os cadáveres e o sangue ao chão, e os vizinhos, que não se atreveram a por o pé fora de casa e se limitaram a observar, em sua 'segurança', os acontecimentos na casa 64. O velho os fitou por um segundo, antes de subir ao andar superior. Os cães o seguiram. O velho olhou para o Pitbull e apontou para a porta do quarto do casal.

- Vai!

O cão obedeceu prontamente e arrombou a porta. As pessoas se amontoaram no canto oposto. O sr. Alvez Diaz tentou ficar á frente delas e encarar o velho, que apontou para ele.

- Não tente fazer isso de novo! - Fora tudo o que disse, antes de voltar à escada. Os cães voltaram a seguí-lo. No andar inferior, o velho pegou a perna que o Pitbull havia desmembrado e a levou até a sua casa, para que os cães a terminássem. Na casa 65, um casal se atreve a sair e iluminar a casa 66 com duas lanternas de longo alcance. Uma delas iluminou a face do velho, com sua grande cicatriz que cortava sua testa ao meio. As luzes se apagarm quando ele apontou para a casa 65, os cães se puseram ao seu lado.



- Vão!


FIM

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

INTITULADO -- PT. 1

O relógio já batia as dez horas da noite de quinta-feira. O apartamento número 1025, no décimo andar de um edifício na última quadra da rua Teixeira Lopes, se encontrava com todas as luzes acesas. Os telefones tocavam a todo momento. Na sala de estar, um casal se vê á beira da agonia, enquanto busca alguma pista sobre o desaparecimento de seu filho, Jorge, de 15 anos. Ele estava sumido desde o meio-dia, quando saiu da escola, mas não fora visto em nenhum lugar que freqüentava. Nem no clube, na bilioteca, na loja de CDs que sempre ia, na casa de algum de seus amigos mais próximos, nem na própria escola, aonde possivelmente voltaria para revisar o conteúdo das próximas aulas. As provas se aproximavam, e Jorge era um típico aluno, como se diz, "CDF".

Dez e meia. O telefone toca novamente na casa dos Teixeira. A mãe, trêmula nas mãos, atende. Um funcionário da escola havia ligado. De acordo com ele, Jorge foi visto deixando a escola acompanhado por três alunos da 8ª série. Ele os identificou como Rafael, Gabriel e Bruno.

A mãe de Jorge anotou os nomes dos alunos e solicitou seus números de telefone e suas classes. Durante a manhã de sexta, os três rapazes receberam telefonemas da mãe de Jorge. Com a voz já enfraquecida pela tensão e falta de sono, ela perguntou se eles sabiam aonde Jorge estava. Nenhum soube dizer, mas Bruno disse que o vira numa rua movimentada da cidade, próxima ao parque dos imigrantes, frequentado por pessoas que treinavam para provas de atletismo. A pista sempre estava com gente entrando e saindo, e o restante do parque na mesma situação. Os vendedores de bebidas e repositores energéticos quase não descansavam, especialmente nos finais de semana.

Os pais de Jorge passram a tarde no parque e nas proximidades. Munidos de fotos de Jorge, perguntavam a vendedores, seguranças e policiais se alguém havia visto seu filho. Com o consentimento e ciência da coordenação do parque, colocaram cartazes de 'procura-se' com a foto mais recente de Jorge que tinham. Nela, ele trajava uma camiseta azul-escuro e jeans. Jorge sempre teve o azul como sua cor em preferencial.

Domingo. 13:15. Aquele mesmo telefone tocou duas vezes, antes da irmã de Jorge, Izabella, atender. A pessoa não quis se identificar, mas deu detalhes do local no parque aonde ela viu Jorge na quinta. O recado foi entregue de imediato aos pais de Jorge, à direção da escola e à polícia. Ás 16:00 o local estava isolado e buscas eram feitas nele e em alguns locais próximos, identificados pela testemunha. Dois cães da polícia apontavam seus olhares para o vestiário masculino próximo á pista, aonde entraram dois policiais e os pais de Jorge. Os cães foram para o mesmo local, o armário de utensílios. Quando a porta se abriu, um silêncio tomou conta das seis pessoas presentes no local.

(Continua...)