quinta-feira, 21 de maio de 2009

INTITULADO -- PT. 11

Na saída, Johnny mexia em seu mp3, Laysa ligava para sua mãe, dizendo para ir buscá-la e André comia um chocolate. Ambos saíam juntos da escola. Gabriel saiu de trás de uma coluna, puxou Laysa pela gola e a colocou contra a parede.

- Não me provoca! Não é porque o Rafael não tá aqui, que eu não seria legal vocês. Vê se fica na tua.”

Antes que ele dissése qualquer coisa mais, André puxou sua camiseta pela manga direita, e Johnny deu em empurrão nele. Gabriel deu um pulso e atingiu André na barriga. Johnny deu outro empurrão em Gabriel e lhe deu chute na perna esquerda. No instante em que ele se apoiou no pé esquerdo para chutar com o direito, e quando os seguranças vinham para apartar a briga, Gabriel virou um soco no nariz de Johnny, quebrando-o. Johnny caiu no chão, e Gabriel caiu sobre ele, aplicando socos nos rins e no estômago. André pulou sobre Gabriel, tendo o mesmo tipo de conflito. Laysa, ao ver os amigos brigando de tal forma brutal, ao observar Gabriel aplicando um soco no olho esquerdo de André e fazendo o cair no chão, pegou sua bolsa e golpeou a cabeça de Gabriel. Quando este ia golpear Laysa, o que, para ele seria o sacrifício de todos os esforços anteriores, os seguranças o seguraram pelos braços, levantaram Johnny e André.

- O que tá acontecendo aqui?! - Grita o segurança, sem nenhuma paciência para brigas do tipo.

Os três não responderam. Apenas encaravam Gabriel, enquanto este, olhava para o chão. Todos foram levados à diretoria, aonde ouviram um longo sermão do diretor sobre conduta na escola, enquanto Johnny tentava estancar o sangramento no nariz, e André punha um saco de gelo contra o olho atingido. Gabriel olhava impaciente, isolado dos três num canto da sala. Não se via qualquer sinal de amizade ou boa vontade nele, apenas um raiva contida. Johnny e André experimentaram uma sensação de poder, ao desafiarem a figura dominadora de Gabriel, e terem a notícia do ocorrido com Rafael. Eles esperaram por mais de meia hora depois de Gabriel deixar a sala, para saírem. Seus pais receberam telefonemas sobre o que acontecera. Não houve muitas explicações, a não ser que se tratava de uma briga escolar, nada de muito incomum. Se mais alguma pergunta ocorresse, diriam que estavam defendendo Laysa de Gabriel. Suspensão de três dias. Exceto para Laysa, que pegou apenas um dia de gancho.

Rafael acordou na manhã de terça. A cirurgia na cabeça não foi grande, mas era um local delicado. Lentamente ele olhava o branco das paredes e teto de seu quarto no hospital tomarem forma. Só ouvia o 'bip' de seu aparelho. Ele era “vizinho” de outros pacientes neurológicos. Alguns estavam em seus quartos, outros no corredor, até cessar a hora do corredor, e retornarem ás camas frias.

Passados três quartos de hora de uma refeição á base de proteínas, Rafael achou que algo havia puxado seu cobertor. Suavemente, mas sensível. Ele sentiu outro puxão, e algo gelado passava por seus pés. Os 'bip's do aparelho dispararam quando ele sentiu uma mão segurar sua perna, sobre o cobertor, e o rosto de Jorge surgir sobre a aresta.

- SAI DAQUI!!!! - Rafael tomou todos os “vizinhos” de susto.

Uma enfermeira de plantão correu ao quarto e se deparou com Rafael atirando todos os objetos que alcançava contra, o que ela presumiu ser, a parede. Ele gritava rouca e desesperadamente, chegando a interferir nos cabos ligados a seu corpo. Jorge esticou o dedo da mão esquerda contra ele, o mesmo que esticara em seus últimos suspiros, e andava na direção de Rafael. Seu dedo encostou no chão próximo á cama, e deslisava contra o chão, deixando um rastro negro. “O fim chega para todos” podia ser lido. Rafael sofreu uma parada cardíaca e um queda que fraturou sua coluna, ao bater contra a escada de apoio. Não deixou traços de sangue, mas perdeu os sentidos instantes após a queda. O alarme foi soado no hospital, e o serviço funerário foi chamado. Mais más notícias aos pais de Rafael. Já havia chegado ao receber o telefonema do diretor do hospital. Assim que soube do ocorrido, a mãe de Rafael pegou uma faca da cozinha e a fincou em seu pescoço.

Bruno recebeu um telefonema idêntico. Escreveu uma carta confessando a morte de Jorge, e ingeriu uma caixa de veneno contra ratos. Seu rosto ficou roxo, em seguida pálido, em frente á janela, aonde rezou, dia após dia, pelo perdão de seus atos. A carta terminava com as sentenças: “Que o perdão seja a mim concedido após o pagamento da minha dívida, com a minha vida. Não espero gratidão, apenas reconhecimento e um enterro digno. E que eu tenha o fim que mereço.”

A notícia foi impedida de chegar aos corredores da escola. O diretor vetou de imediato, após ler a carta que Bruno deixara. Ele e a professora da classe de Gabriel fizeram uma visita ao delegado que cuidava do caso de Jorge. Já não recebiam notícias a um tempo. Voltaram para a escola com as notícias de que o delegado havia se aposentado, não havia qualquer arquivo, ou informação sobre o caso, e nenhuma entrevista foi realizada no dia em que o ônibus deixou a escola, de acordo com os registros da delegacia. Como não tinham idéia como agir em relação ao caso, voltaram à escola, fazendo-se várias perguntas.

O delegado descia de um táxi na porta de um hotel á beira-mar em Miami. Seu inglês não era dos mais afiados, mas ele se virava. Deixou uma gorjeta ao motorista e subiu ao quarto, uma bela suíte, cama tamanho 'King' e uma caixa de charutos cubanos rente á varanda. Mais do que ele jamais sonhava em dezessete anos de delegacia. Uma bela vista da praia e uma banheira da hidromassagem completavam o pacote, fruto do “bônus” que recebera do pai de Gabriel. Não se arrependera nem um pouco de sua ambição em demasia ao pedir um grande pagamento em euros. Cansava-se da delegacia, dos inúmeros pedidos de boletim de ocorrência, das pilhas de casos não resolvidos e dos infames pedidos de saídas adiantadas de seus subordinados. Eram um mundo do qual ele estava farto e, na devida ocasião, pôde se ver livre das papeladas.

Já eram mais de oito e meia da noite. Horário local. O delegado deita-se na banheira, deixa uma temperatura a seu agrado e liga a hidromassagem. Nada foi capaz de superar a satisfação, o prazer e a alegria de ver todas as bolhas na água, subitamente se formando, tomando a superfície e rompendo-se, enquanto esvaziava uma garrafa de vinho.

Uma e quinze da tarde. Os três inseparáveis amigos andavam pela rua principal de um movimentado parque há 3 quilômetros da escola. Andavam pela calçada para não atrapalhar os atletas em treinamento.

- Eu chamei a minha mãe ontem – Relata Laysa.
- Por quê?! Ela ficou muito brava?! - André lhe pergunta
- Eu falei que pensei em mudar de escola.
- Nossa, mas por quê?! - Johnny intervém agora.
- Ah, meu, sabe...!! Ir todo dia pra escola, dar de cara com aquele bo*ta do Gabriel...Não sei, desde que o Jorge morreu essa escola parece tão fria pra mim. Eu queria sair de lá, com vocês, e ir pra outro lugar, aonde ninguém soubesse nada de mim, nem da gente. Sei lá, aonde eu pudesse entrar sem ter que ver se tem alguém me olhando, ou falando sobre mim.
- Eu pensei nisso também – Johnny relata – Depois do que aconteceu, eu pensei em sair de lá, começar a série de novo em outro lugar. Se vocês não estivessem na minha sala, ou na minha escola, a gente ia se ver toda tarde que pudéssemos, fora os fins de semana e feriados.

Eles discutiram por uma hora sobre a questão. Laysa e sua mãe não haviam chegado a uma conclusão se a saída da escola deveria ser posta em prática. Era o meio do semestre. Qualquer outra escola seria como um “bonde pego andando”, de acordo com a famosa expressão.

(Continua...)

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