quinta-feira, 21 de maio de 2009

INTITULADO -- FINAL

Os rapazes pegaram Johnny e Laysa pelo braço, e forçaram os canivetes. Eles foram colocados no banco de trás. O carro saiu pela rua. Johnny e Laysa se olhavam, os olhos arregalados e as mãos trêmulas dos dois eram vigiados pelos dois rapazes. Eles se sentaram ao lado dos amigos, segurando seus pulsos. Eles tiveram de entregar os celulares, que foram desligados e colocados no porta-luvas.

A casa aonde o carro estacionou parecia familiar para Laysa. Ela se lembrava de ter passado na frente, e de ter entrado lá, mas não sabia exatamente. O portão de chapa se abriu, e o carro seguiu para os fundos. Johnny e Laysa foram retirados do carro á força, e levados ao porão. Ficaram sentados num banco de madeira, os braços foram amarrados e as pernas foram presas com silver tape.

Os rapazes saíram do porão, deixando-os presos num espaço de 16m². Não era sujo ou empoeirado, mas um cheiro estranho saía das latas empilhadas ao lado da porta.

Dali a dez minutos, a porta se abriu novamente, abrindo espaço para um feixe de luz invadir o porão, e uma sombra se forma dentro dela. Os passos começam a soar, enquanto a sombra toma forma atrás da pessoa que entra.

- Você acreditaria se eu dissesse que jamais quis isso?!

A voz ecoa pelo porão. Johhny e Laysa reconhecem a voz e a intenção que havia por trás da frase. Gabriel parou na frente dos dois. Nada havia em suas mãos. Johnny não pôde encará-los nos olhos. Olhava para o chão. Ele implorava para que apenas ouvisse. Não deveria fazer nada, ou que algo fosse feito contra ele, de forma física e intensa. Gabriel se aproximou de Laysa, passando a mão sobre a sua cabeça, seus dedos passavam pelos fios escuros do cabelo de Laysa. Ela tentava esquivar a cabeça, mas Gabriel a segurou com a outra mão.

- Eu olhava pra você todo dia. Você acredita que eu até anotava as roupas que você usava?! Ainda que não fosse nada muito chamativo, mesmo que você tivésse de pijama, eu iria saber se você faltou.

Laysa também não conseguia encarar Gabriel nos olhos. Ela tentava controlar um choro que lhe bateu, enquanto ouvia as palavras de Gabriel. Ela não imaginava que seria admirada de tal forma.

Gabriel se levantou e ficou na frente de Johnny. Segurou-o pelo ombro e deu um soco em sua barriga.

- Pára, seu desgraçado!!! - Laysa gritava, soluçando.

Levou um tapa no lado esquerdo do rosto.

A pouca luz que entrava pela porta, e criada por uma fraca lâmpada no teto, subitamente desapareceu. Gabriel voltou para a porta, para abrí-la. Estava trancada.

- Você tá bem?! - Johnny se vira para a amiga.
- Tô, sim.

Gabriel tentou chegar a um interruptor, quando viu uma luz vermelha sair da parede e tomar o porão. Subitamente ela se apaga, e acende de novo. Quando ela ascendeu, dois ratos saíram da gênese da luz, e correram até Gabriel, roendo seus tornozelos. Ele correu para as latas, tirou uma caixa de trás delas, abrindo-a depressa e tirando uma de suas espadas. Em dois golpes ele matou os dois ratos. Seus tênis são lentamente tomados pelo sangue saído das feridas. A maior ficou no sobre o pé direito. Ele mancava na direção de Laysa, quando viu uma sombra pairando na parede.

- Eu te avisei. - Sai uma voz da gênese.

Gabriel pegou sua espada de novo, e tentava golpear a gênese da luz, e a pessoa que saía dela, aquela que ele, Rafael e Bruno tentaram desesperadamente esquecer. Os golpes não atingiam Jorge, que apenas observava o desespero do rapaz.

De trás de Jorge saiu um corvo, que ostentou suas asas sobre Gabriel, voando sobre ele e atingindo seu pescoço. Gabriel caiu ao chão, mas ainda assim, pode golpear o corvo. Seu treinamento de anos fora sua última defesa. Jorge andou até ele, pegou sua espada e a passou bem diante dos olhos de Gabriel, exatamente como ela fizera consigo. Jorge fez três cortes em Gabriel, na testa, no peito e na barriga. Gabriel estava á beira do desmaio. Johnny e Laysa observavam atônitos e sem compreender direito. Podiam reconhecer Jorge no menino, mas não tinham certeza se era ele.

A luz se apaga. Volta a luz do porão. Gabriel esta deitado, sem cortes e sem respirar. A espada parada em sua mão direita, e Jorge perto dele. Johnny e Laysa o reconhecem. Ela começa a chorar, Johnny não acredita no que vê. O amigo cujo enterro ele presenciara com seus olhos, agora estava á sua frente. Jorge pegou a espada de Gabriel e soltou Johnny e Laysa, que não consguiu levantar-se.

- Ele não vai mais. Nunca mais.

Laysa soluçava. Ela esticou a mão tentando tocar o rosto de Jorge. Estava frio, mas ela podia sentí-lo. Johnny pôs a mão sobre o ombro de Jorge e o abraçou. Laysa fez o mesmo. Eles não tinham nem uma pequena idéia de como ou por que Jorge estava lá, mas isso pouco interessava.

- Eu não podia deixar vocês assim. Foi tudo muito rápido – Jorge voltoua ficar diante dos dois, que não mais o sentiam – Eu não ia deixar eles atormentarem vocês pra sempre. O que aconteceu comigo não deve acontecer com ninguém. Nem a eles eu desejo isso. Talvez ao Gabriel. Vocês merecem coisa melhor do que fugir deles. Eu só vim ter certeza disso.

O corpo de Jorge, pouco a pouco, desaparecia. Laysa tentava tocá-lo, mas ele já não era fisicamente palpável.

- Por favor, não vai embora!!

Ela pode ver Jorge sorrindo para ela.

- Quem disse que eu tô indo embora?!

E Jorge desaparece no porão. A porta se abre, e os amigos correm para deixar a casa. Corriam agachados pelo jardim, aonde passaram na frente do carro que os trouxera, pegando seus celulares e mochilas de volta. Eles se olharam, pensando em como sair da casa, quando o portão se abre lentamente. Eles correram rua abaixo, sem olhar pra trás. Não estavam longe da escola, Laysa sabia o caminho para voltar. Pararam em uma padaria, aonde entraram e perguntaram se havia banheiro. Lavaram seus rostos e religaram seus celulares. Laysa ligou para André, e Johnny viu que havia quinze chamadas não atendidas de sua mãe. Ao ligar para ela e ouvir suas exclamações fervorosas, ele relatou que seu celular havia sido perdido, e que agora ele o encontrava.

André não acreditava no relato de Laysa. Ela mal conseguia explicar a ele o que acontecera, pois voltou a chorar. Johnny pegou o telefone, e pediu a André que os encontrásse na porta da escola.

- Vocês vão querer alguma coisa?! – Pergunta o caixa da padaria.
- Não, obrigado! - Johnny responde sem olhar a ele, pega Laysa pela mão e ambos deixam a padaria, correndo assim que seus pés tocam a calçada.

André corria na mesma velocidade rumo ao portão da escola. Só paravam para atravessar as ruas. Se nenhum carro era visto, corriam até mais rápido. André foi o primeiro a chegar ao portão, aonde se sentou na calçada, esperando pelos amigos. Pode vê-los atravessando a rua, e abraçando-o em seguida. Como acontecera com Jorge, foi um abraço longo e apertado.

Johnny começou o relato desde o início. André não conseguia criar a imagem da situação na cabeça. Laysa mandou uma mensagem à sua mãe, dizendo que foram ao cinema, e que estaria em casa dentro de meia hora.

Os três caminhavam pela rua. Laysa parou em um loja de flores, comprou um ramalhete e telefonou à sua mãe. Ela os levou ao cemitério aonde Jorge foi enterrado. A mãe esperou no portão, vendo os três andando juntos para a lápide do amigo. Juntos, seguraram o ramalhete e o colocaram frente á lápide.

Laysa fechou os olhos e rezou pelo amigo. Abraçada por André e Johnny, eles rezaram, baixo, segurando a lápide. Deixaram o cemitério e uma série de más lembranças para trás. A escola iria lhes oferecer uma chance de um reinício. Laysa sabia que Jorge não havia lhes deixado. Ele iria para a escola com eles. Tinha a exata certeza disso.

Os pais de Jorge abriram uma livraria em Sorocaba, batizada com o nome do filho.

O pai de Gabriel sofreu um acidente de carro. O air bag não funcionou. Ele teve um traumatismo craniano.

Na tarde de terça-feira, a polícia de Miami foi chamada por um funcionário de um hotel. Ele encontrou o delegado afogado na banheira e intoxicado por álcool.


FIM

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